sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Os indiferentes

Odeio os indiferentes. Como Friedrich Hebbel, acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão e partidário. Indiferença é a falta de vontade, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.
A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador inerte em que se afogam frequentemente os entusiasmos mais esplendorosos, o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas mulharas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heroica.
A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua.(...)
Odeio os indiferentes, também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram, e sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir como eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura, que vamos construir.(...)

Antonio Gramsci